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sexta-feira, 7 de maio de 2010

Esta é a guerra que davam por morta


Se em 2009 os acontecimentos que se sucederam na Grécia depois do assassinato policial de um jovem anarquista nos diziam que as revoltas não eram parte do passado na velha Europa, o 2010 nos está dizendo que a guerra de classes segue igualmente vigente como sempre, e que é possível começá-la e a desenvolver aqui, neste mesmo instante. A greve geral selvagem de ontem no país grego evidencia a possibilidade e necessidade que se abre à partir da deslegitimação de uma ordem mundial capitalista, que é a de recuperar a consciência e resgatar o que diz a velha luta de classes. Pois é esta guerra, a que muitos [acadêmicos principalmente] davam por morta, a única capaz de libertar da opressão econômica e social.
O governo grego estava muito consciente do que ia ocorrer se anunciasse o programa de cortes proposto pelo FMI e com o aval da mal cheirosa Zona do Euro, pois o presidente Papandreu sabe bem o nível organizativo e a indignação que existe entre a classe trabalhadora de seu país. Mas parece que não fez mais do que aceitar com boa vontade a chantagem capitalista mundial, ainda sabendo das conseqüências. Ao fim e a cabo as marionetes só obedecem aos estímulos de seus fios, são outros que os movem.
As conseqüências não fizeram mais que começar e uma maioria social avança com força contra a imposição das penúrias que gera o sistema da mercadoria e do pensamento único. A classe trabalhadora grega saiu às ruas massivamente, uma classe que permanece unida com cada um dos novos e velhos sujeitos que a compõem como os imigrantes, os milhares de desempregados ou uma juventude que tem demonstrado com cresce a valentia e o esforço por colocar na rua a guerra social.
Ontem, a classe oprimida organizada de Atenas, Tessalônica e muitas outras cidades gritou, expôs suas reivindicações, desfraldou suas bandeiras e se defendeu com pedras e molotovs porque faz tempo já que perderam o medo, o medo paralisante que mantêm a maioria das pessoas do planeta sob o império do dinheiro. E esta é a única e sincera razão pela qual a Espanha não é a Grécia, tal e como se apressaram hoje a dizer os "agentes sociais" daqui. O medo não desaparece, só mudou de bando, e isso faz do protesto um processo irreversível.
Voltamos a ser milhares
A imprensa e os manifestantes coincidem desta vez em considerar os protestos de ontem os mais numerosos e potentes dos últimos vinte anos. Foram milhares, milhões que abandonaram seus postos de trabalho no comércio, na hotelaria, nos transportes ou na agricultura para irem a rua e participar nas manifestações, que longe de se parecerem aos domesticados passeios que realizam os sindicatos oficiais no Estado espanhol [e festas no Brasil], são uma boa mostra da fúria e da vontade de mudar o atual estado das coisas, onde são os pobres que pagam um alto preço pelos excessos monetários de seu governo.
Foram milhares e estavam organizados. Se mostraram tão convincentes que contagiaram na ilusão de tacar fogo ao Parlamento, para que ao redor do meio-dia se espremiam mais de cem mil trabalhadores que se dispunham a isso. Este simbólico gesto, ainda que por um momento real, é uma mensagem aos milhões de oprimidos do mundo e concretamente seu principal destinatário deve ser a classe trabalhadora da Europa, que diferentemente da Grécia, permanece no mais absoluto silêncio e letargia, ainda encontrando-se em situações muito parecidas, como no nosso caso.
Foram muito longe poderia dizer o presidente. Mas os de baixo, os protagonistas das declarações de hoje, terão que esculpir-lhe neste mesmo instante todo o contrário. Que não acabam mais que ressuscitar uma guerra que tem sido mantida durante décadas no mais profundo abismo, adormecida pela brutalidade do pensamento único e o medo desesperado da maioria.
Quando de noite as principais ruas de Atenas ainda eram pasto para as lhamas, dezenas de detidos eram algemados em suas celas, muitos feridos se lamentavam pela dor e a criminalização se punha em marcha mediante a imprensa internacional. A última hora, La Haine informava a seus leitores de que os regimentos militares das periferias de Atenas se encontravam em alerta máximo, o que leva a pensar que o governo planejava mover as altas esferas da repressão para tentar aplacar a força demonstrada ontem pelos trabalhadores. São as clássicas medidas que qualquer governo poria em marcha diante da radicalidade e decisão mostrada, ainda que sem dúvida seja muito duras as conseqüências que serão sofridas pelos rebeldes gregos, aos que lhes esperam porrada, prisão e censura. E a esta repressão que deverão fazer frente, a mão de ferro que se desprende da luva de seda.
Os trabalhadores gregos, os jovens e os imigrantes têm uma tarefa para realizar mais além do 5 de Maio, dia da greve geral, que é o fortalecimento de suas organizações autônomas e radicais, colocar em funcionamento os mecanismos que faltem para começar a substituir o estado em suas funções e que devolva aos produtores o que é seu e o trabalho por uma sociedade habitável e sustentável de igual direitos e deveres para todos, sob sistemas verdadeiramente democráticos onde a decisão seja gestada por seus próprios implicados. Devem continuar com esta guerra que começaram e que têm por destino uma revolução social. Com sua palavra, e se for necessário com as armas na mão.
Carla del Valle
Espanha - Primavera 2010

domingo, 2 de maio de 2010

Anarquismo e 1º de maio no Brasil (1ª parte)



Apresentamos aqui a primeira das 3 partes deste artigo que nos traz a origem do 1º de Maio no Brasil. Por Milton Lopes (*)



Manifestação operária em 1º de Maio de 1919 no Rio de Janeiro. Reproduzida da Revista da Semana, 10 de maio de 1919.
O Brasil conhecerá seu primeiro grande surto de industrialização a partir da última década do Império (1881-1889). Apesar do grosso da economia do país ainda assentar na exportação em grande escala de matérias primas e produtos agrícolas (com predominância para o café nesta fase), o número de estabelecimentos industriais, que era pouco mais de 200 em 1851 sobe para mais de 500 em 1889. Do total do capital investido nas atividades industriais naquela época, 60% concentram-se na indústria têxtil, 15% na da alimentação, 10% na de produtos químicos, 4% na indústria de madeira, 3,5% na do vestuário e 3% na metalurgia. Estas atividades produtivas manterão suas posições neste ranking durante as décadas seguintes. No período de 1890 a 1895 serão fundadas mais 425 fábricas, com investimento equivalente a 50% do capital investido no início dos anos 1880. Um primeiro censo geral das indústrias brasileiras realizado em 1907 mostrará a existência de 3.258 estabelecimentos industriais, empregando 15.841 operários. 33% destas fábricas estavam localizadas no Rio de Janeiro, então capital da recém proclamada república (1889), percentual a que se poderiam somar os 7% do antigo estado do Rio de Janeiro, 16% em São Paulo e 15% no Rio Grande do Sul. A hegemonia industrial do Rio de Janeiro cederia para São Paulo no período entre 1920-1938. A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) dará grande impulso à indústria nacional, com a diminuição da importação dos países envolvidos no conflito e também com a diminuição da concorrência estrangeira, devido à forte queda do câmbio.[1]

Resto do artigo em:

http://www.4shared.com/document/-5sBumnb/Anarquismo_e_1_de_maio_no_Bras.html

http://passapalavra.info/?p=11682