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quinta-feira, 25 de abril de 2013

26 de Abril e a luta por uma comunicação livre

Este texto tem a pretensão de aproximar a discussão entre Geografia e Comunicação por um viés libertário.  Provavelmente não será o único e terá continuidade.


Dia 26 é aniversário (que triste) de uma corporação que existe há um bom tempo, Essa  corporação, claro, capitalista, pois (re)produz todas as desigualdades da sociedade atual, (concentra, hierarquiza e define qual é o(s) assunto(s) a ser feito o debate público) explorando trabalhadores e trabalhadoras desta área ( jornalistas, fotógraf@s e demais, não conseguem perceber o tamanho do poder que vocês possuem? e continuam a perpetuar isso?)... Mas com uma coisa muito importante: ela utiliza das técnicas de telecomunicação, da radiodifusão, da mídia impressa entre outras ferramentas que afeta as sensações e o imaginário coletivo e individual na cidade e no campo1.

Praticamente desde sua origem em território nacional, os meios de comunicação são  legislados pelo Estado, ou seja, há um cerceamento sobre a comunicação social e seus instrumentos. É, o próprio ente que tantos acham justo defender e lutar por ele. Este que dá "a tal da concessão" para esta corporação, que por sinal nunca teve sua concessão negada.

Aliás, concessão é uma coisa esquisita para algo que é direito expresso na Declaração Universal dos Direitos do Homem, no Pacto de San Jose da Costa Rica ou na Constituição Brasileira, o famoso artigo 5º que na realidade só fica no papel ou quando os movimentos sociais estão na luta para se defender, utilizam dessa tática.

Mas então, a concessão... O AR, ou para os mais especialistas, o espectro eletromagnético, não gera renda, assim como a terra também não. É o fruto do trabalho do ser humano que da o sentido a esses substratos necessissários para a vida


As Ciências Sociais e da Comunicação -

Hoje no Brasil as Ciências Sociais e da Comunicação ao estudar as formas e conteúdos de meios de comunicação estão restringidas a dualidade estatal e privada, salvo excessões, como trabalhos que estão diretamente ligados a projetos de caráter livre na comunicação, em especial a radiodifusão2

Razões para essa dualidade nos estudos é a  ausência de um pensamento autônomo revolucionário ao trabalhar com a comunicação não atrelada com o Estado e sem fins lucrativos.

Experiências que buscam essa prática libertária comunicacional existem há algum tempo como as rádios livres3.

As rádios se diferenciam muito da mídia eletronica virtual por possuirem uma relaçao espacial mais mapeavel, ou seja, mais enraizada em um determinado territorio, que a maioria das vezes possui legitimidade, conquistada cotidianamente por uma rede de relaçoes.Essa rede, ou melhor rizoma4, passa pelos programadores que vez ou outra estao inseridos em outros projetos ou coletivos que possuem traços de autonomia, horizontalidade e formas mais participativas de decisoes políticas

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1Veja o livro que trata de apropriaçoes socioespaciais em salvador e alemanha de Angelo Serpa. "Lugar e Mídia"

2 A respeito disso ver :
 Flora Guimarães Gonçalves. Apropriações libertárias sobre o espectro radiofônico: as rádios livres, 2012;
Cristiane Dias Andriotti. O Movimento das Rádios Livres e Comunitárias e a Democratização dos Meios de Comunicação no Brasil, 2004;
Marisa Amelina Meliane Nunes. Rádios Livres: O outro lado da voz do Brasil, 1995 e
Arlindo Machado, Caio Magri e Marcelo Masagão. Rádios Livres: A reforma Agrária no ar, 1987.

3 Documentário Comunicaçao Livre

Portal Rádio Livre

quinta-feira, 28 de junho de 2012



O texto que segue é um escrito de Elisiée Reclus em espanhol que traduz o pensamento dos anarquistas ou anarco-comunistas com respeito à questão agrária. Enquanto um grupo de marxistas defendia que o campesinato por sí só não era uma classe revolucionária mas uma classe em transição, e que os trabalhadores urbanos deveriam tê-los como aliados, porém, sempre guiando-os em um processo revolucionário. Outra corrente socialista, a de Kautsky defendia que o campesinato não somente não era revolucionário como não deveria ser considerado nem mesmo como aliado, que o campesinato deveria ser extinto, entre outros motivos, por ser uma classe contra-revolucionária. Os anarquistas viam a questão agrária de outra maneira, percebiam nos camponeses os laços de cooperação e solidariedade muito mais afinados com a idéia de Kropotkin de apoio mútuo, muito mais suscetíveis às ideias socialistas devido às suas práticas e vivências. Para aplacar as preocupações que assolavam os camponeses que não entendiam de fato quais eram as ideias do proletariado urbano e o que queriam dizer com socialismo e revolução, que desejavam saber qual seria o papel do camponês nesse processo e para evitar que cada vez mais as elites utilizassem o campesinato como massa de manobra contra os levantes do proletáriado urbano,  Elisiée Reclus escreve essa carta: 


Silvio Marcio M. Machado

A mi hermano el Campesino
Eliseo Reclus
“Es cierto -me has preguntado- que tus compañeros, los obreros de la ciudad, quieren desposeerme de la tierra, de esta hermosa tierra que yo amo, que me produce doradas espigas ciertamente tras mucho trabajo, pero que, sin embargo, me las produce? Ella ha mantenido a mi padre y a mi abuelo, y mis hijos hallarán en ella un poco de pan. ¿Es decir que tu quieres desposeerme de esta tierra, arrojarme de mi cabaña y mi huerto?
- No, hermano mío, no es cierto. Puesto que es tuyo el suelo y eres tú quien lo cultiva, a ti solamente pertecen sus mieses. Nadie tiene derecho, antes que tú, que haces crecer el pan, a comércelo en compañía de tu mujer y de tus hijos. Guarda tus campos con toda tranquilidad, conserva tu azadón y tu arado para remover la tierra endurecida, separa la semilla para fecundar el suelo. Nada existe más sagrado que tu labor. ¡Maldito mil veces quien intente quitarte ese suelo por ti fecundado!
Pero esto que te digo a ti, no lo hago extensivo a otros que se creen también cultivadores del suelo, y que no lo son sin embargo. ¿Quiénes son esos supuestos trabajadores del campo? Los que han nacido de grandes señores. Al venir al mundo se les colocó en lujosa cuna, envuelto con finas lanas y ricas sedas; el cura, el magistrado, el notario y otros personajes vivnieron a visitar al recién nacido como futuro propietario de las tierras. Cortesanos, hombres y mujeres, han venido de todas partes para traerles presentes, ropas bordadas de plata, brazaletes de oro; mientras le colmaban de regalos, se registraba en los grandes libros que el niño era poseedor de ríos, bosques, campos y prados. Sus propiedades se extienden desde el monte hasta el llan; y bajo la tierra trabajan para él cientos y miles de obreros. Cuando sea hombre irá tal vez a visitar lo que heredó al salir del vientre materno, o pudiera suceder que no se toomara tal mlestia; pero lo que sí hará será hacer recoger y vender los productos de tierras que ni siquiera ha visto. Por todos los lados, en barcas de ribera, en buques a través del Océano o por caminos de hierro, afluirán a su casa sacos de dinero, como rentas de sus propiedades. Pues bien; cuando seamos los más y dispongamos de la fuerza ¿dejaremos que todos esos productos del trabajo humano ingresen en las cajas del heredero? ¿Nos inspirará respeto esa propiedad? No, amigos míos; tomaremos posesión de todo eso. Romperemos sus papeles y planos, destruiremos las puertas de su castillo, haremos nuestros sus dominios. “¡Trabaja si quieres comer! -diremos a esos pretendidos agricultores.- Ninguna de estas riquezas te pertenece”.
¿Y ese otro señor, nacido pobre y sin pergaminos, a quien ningún adulador vino a admirar a su cabaña o tugurio paterno, pero que tuvo, no obstante, la suerte de enriquecerse por su trabajo, probo o no? No tenía ni un terrón de tierra donde descansar su cabeza, pero ha sabido por especulaciones y economías, por la protección de sus amos o azares de la suerte, adquirir inmensos dominios, rodeándolos de muros y barreras: recoge donde no ha sembrado, y come bueno y abundante pan que los demás han creado. ¿Respetaremos esta segunda propiedad, la del enriquecido que tampoco trabaja sus tierras, sino que las hace trabajar por manos esclavas y, no obstante, dicen que son suyas? No, esta segunda propiedad no la respetaremos ni más ni menos que la primera. Diremos también a este cuando tengamos fuerza suficiente: “¡Atrás, intruso! ¡Puesto que has sabido trabajar, continúa! ¡Dispondrás del pan que te produzca tu trabajo, pero la tierra que otros cultivan no te pertenece; no eres más su dueño!”.
Sí, tomaremos posesión de la tierra, pero sólo la de esos que la detentan sin trabajarla, para ponerla a disposición de los que la trabajan y a quienes estaba prohibido gozar de ella. Pero no se pondrá a su disposición para que puedan explota a otros desgraciados. La porción de tierra a la que el individuo, el grupo, la comunidad o la familia tendrá naturalmente derecho, será la abarcada para el trabajo individual o colectivo. Desde el momento que un pedazo de tierra se salga de los límites que pueden trabajarse, no tienen ninguna razón natural para reivindicarlo a su favor; su producto y su cultivo pertenece a otros trabajadores. El límite se traza diversamente entre las culturas [los cultivos] de individuos y grupos, con arreglo a la extensión puesta en estado de producción. Lo que tú cultivas, hermano mío, es para ti, y nosotros te ayudaremos a conservarlo por todos los medios que estén a nuestro alcance; pero lo que tú no cultivas pertenece a tu compañero. ¡Cédele un pedazo; verás como también él sabe fecundar la tierra!
¿Y si el uno y el otro tenéis derecho a vuestra tierra, cometeréis la imprudencia de continuar aislados? Cuando está sólo el pequeño propietario agrícola es demasiado débil para luchar con la naturaleza avara y el tirano demasiado malo. Si consigue vivir es por un prodigio de su voluntad. Es preciso que se acomode a todos los caprichos del tiempo [clima] y se someta en mil ocasiones a privaciones voluntarias. Que el hielo petrifique la tierra, que el sol queme, que llueva o que haga aire, debe estar siempre trabajando; que la inundación ahogue las cosechas, que el calor las calcine, no le queda otro remedio que recoger tristemente lo que quede, que no le será suficiente para vivir. Cuando llegue el día de la siembra, tendrá que privarse de comer para echar en el surco el grano con que había de hacer su pan. En medio de su desesperación sólo le queda una esperanza: la de que sacrificando una parte de sus pobres economías, después de crudo invierno y la insidiosa y traidora primavera, vendrá el ardiente verano y madurará, triplicando o cuadriplicando tal vez, la cosecha. ¡Que amor intenso siente hacia esa tierra que tanto le hace pensar por el trabajo, tanto sufrir por el temor y las decepciones y tanto regocijarse cuando ve las matas ondular llenas de espigas! ¡Ningún amor es más grande que el del campesino hacia el suelo que ha roturado y fecundado, en el que ha nacido y al que volverá! ¡Y sin embargo, cuántos enemigos le rodean y le envidian la posesión de esa tierra que adora! El cobrado de impuestos tasa su arado y le toma una parte de su trigo; el comerciante le busca otra parte; el camino de hierro le priva también de transportarse él mismo sus cosechas. Por todas partes de ve engañado y es inútil gritarle: “No pagues el impuesto, no pagues los réditos”. Paga, no obstante, porque está sólo, porque no tiene confianza en sus vecinos, en los otros propietarios o arrendadores que no pueden concertarse entre ellos. Se les tiene esclavos a todos por el temor y la desunión.
Es cierto que si todos los campesinos de un mismo distrito hubieran comprendido lo que la unión puede acrecentar sus fuerzas contra la opresión, no hubieran echado en olvido las comunidades de los tiempos primitivos, los “grupos de amigos”, como se denomina en Servia y otros países eslavos. La propiedad colectiva de esas asociaciones no está dividida en cercos, murallas ni zanjas. Los compañeros no se disputan por saber si una espiga ha crecido dentro o fuera de un surco; de cualquier modo saben que es para ellos. Nada de notarios y abogados para arreglar los interesas entre amigos. Después de la recolección, antes de la época de las nuevas labores, se reúnen para discutir los negocios comunes. El joven que se ha casado, la familia en que ha nacido un hijo o aquélla en la que ha entrado un huésped, exponen su nueva situación y toman mayor parte del haber común para satisfacer sus mayores necesidades. Estrechan o ensanchan la distancia según la extensión del suelo y el número de los miembros, y cada cual trabaja en su campo satisfecha de vivir en paz con los hermanos que trabajan a su lado, con arreglo a las necesidades de todos. En circunstancias semejantes, los compañeros se ayudan mutuamente: si un incendio ha devorado una cabaña, todos se ocupan de reconstruirla; si una avenida [inundación] ha destruido un campo, todos se interesan en beneficiar al amigo lesionado. Uno sólo apacenta los rebaños de la comunidad; por las tardes las ovejas y las vacas saben seguir el camino que les conduce a su corral, sin que nadie las empuje. La riqueza es a la vez propiedad de todos y de cada uno.
Pero la comunidad, lo mismo que el individuo, es bien débil si vive en el aislamiento. ¡Si no tiene bastante tierra para el conjunto de participantes, todos deben sufrir hambre! Casi siempre vive en lucha con un señor más rico que ella, aspirando a la posesión de este o el otro campo, de un bosque o un prado perteneciente a la comunidad y que resiste cuanto puede. Si el señor fuera solo, pronto abatiría su orgullo de insolente personaje, pero como nunca está solo, tiene de su parte al gobernador de la provincia, al jefe de la policía, los sacerdotes y magistrados, el gobierno entero con sus leyes y su ejército. Si tiene necesidad, puede disponer del cañón para ametrallar a los que fecundan el suelo que él anhela. Por eso la comunidad, aunque tenga de su parte la razón, cuando litiga con el señor puede estar segura de que para nada le sirve. Y es inútil gritarle, como el contribuyente aislado: “¡No cedas!” no tiene más remedio que ceder, víctima de su aislamiento y debilidad.
Sí, vosotros sois muy débiles; los pequeños propietarios desunidos o no asociados en comunidades no podéis luchar contra los que quieren esclavizaros, contra los acaparadores que ambicionan vuestro campo y contra el gobierno que os roba los productos del trabajo haciéndoos pagar impuestos aplastantes. Si no sabéis uniros, no sólo de individuo a individuo, sino de comunidad a comunidad y de país a país, formando una gran internacional de trabajadores, pronto vuestra suerte será igual a la de millones de hombres despojados de todo derecho a sembrar y recoger y que, desposeídos de su campo, han entrado en el ejército de los esclavos asalariados, viviendo de lo que le da en forma de limosna, cuando le viene bien darle trabajo. Esos jornaleros son desgraciados hermanos nuestros que han sido despojados de la tierra como tal vez seáis vosotros mismos mañana. ¿Hay acaso gran diferencia entre su suerte y la que os está reservada? La amenaza os alcanza ya; vuestro estado actual no es más que una prórroga que se os concede. ¡Uníos en vuestras desgracias y peligros! ¡Defended lo que os queda y conquistad lo que os habéis perdido! De lo contrario será horrible vuestra suerte futura, porque vivimos en una sociedad de ciencia y de método, y nuestros gobernantes, secundados por un ejército de químicos y de profesores, os preparan una organización social en la cual todo será reglamentado como en una fábrica donde la máquina lo dirigirá todo, y hasta los hombres no serán más que simples ruedas que se cambiarán como hierro viejo cuando intenten razonar y querer.
Así es como en las grandes soledades del Oeste de los Estados Unidos poderosas compañías de especuladores se han constituido perfectamente con los gobiernos, como lo están todos los ricos y los que esperan serlo. Estas compañías han conseguido que se les cedan inmensos dominios en las regiones fértiles y hacen, inmolando hombres, verdaderas fábricas de cereales. Hay campos de cultura que tienen la extensión de una de nuestras provincias. Estos vastos espacios están confiados a una especie de general, instruido, experimentado, buen agricultor y buen comerciante, hábil en el arte de calcular en su justo valor la fuerza productora de las tierras y los músculos. Este jefe se instala en una casa cómoda en el centro de sus tierras; tiene en sus cobertizos cientos de arados, cientos de máquinas sembradoras, cegadoras y trilladoras, una cincuentena de vagones que van y vienen incesantemente sobre los rails desde los campos al puerto más cercano, cuyos embarcaderos y navíos le pertenecen también; una línea telefónica va desde la casa-palacio a todas las construcciones de su dominio; la voz del amo se oye por todas partes; percibe todos los rumores; vigila todos los actos; nada se hace sin orden suya y sin que se ha visto por él.
¿Y a qué queda reducido el obrero, el campesino, en ese mundo tan bien organizado? Máquinas, caballos y hombres se utilizan del mismo modo; son cosas iguales, evaluadas en cifras, que es preciso emplear en beneficio del amo. Las cuadras están dispuestas en forma que al salir de ellas, los animales empiezan ya el surco de varios kilómetros de largo: cada uno de sus pasos está calculado y se sabe lo que le producen al señor. Lo mismo están calculados todos los movimientos del obrero desde la salida del dormitorio común. Allí nada de mujeres ni de niños que vengan a alterar su tarea con una caricia o un beso. Los trabajadores están agrupados por escuadras, con sargentos, capitanes y el inevitable soplón. El deber es hacer metódicamente el trabajo ordenado, sin la menor discusión ni opinión en contra. Cuando una máquina se inutiliza la arrojan al montón de hierro viejo si no es posible repararla. Si un caballo cae y se rompe un miembro se le dispara un tiro en una oreja y lo arroja al sumidero. Si un hombre sucumbe de fatiga, si se le descompone una articulación o le invade la calentura, no le evitan la pena acabándole con un tiro, pero le desembarazan de él no obstante: le llevan a un lugar separado a que se muera sin molestar a los que están trabajando.
Al finalizar los grandes trabajos, cuando la naturaleza descansa, el director descansa también y licencia su ejército. Al año siguiente hallará una cantidad suficiente de huesos y de músculos para formar el nuevo ejército, cuidándose mucho que no sean los mismo obreros del año precedente. Podrían hablar tal vez por experiencia, imaginarse que saben tanto como el amo, obedecer a disgusto y, hasta ¿quién sabe? Tomar amor a una tierra cultivada por ellos y figurarse que les pertenece.
Es cierto que si la felicidad de la humanidad consistiera en crear algunos millonarios que tesorizaran en provecho de sus pasiones y caprichos los productos acumulados por los trabajadores esclavos, esta explotación de la tierra por una chusma de bandidos sería el ideal anhelado. Los resultados de estas empresas son prodigiosos cuando la especulación no arruina lo que ella misma crea.
Tal cantidad de trigo obtenido por el trabajo de quinientos hombres, puede nutrir cincuenta mil: a los gastos hechos pagando un salario irrisorio corresponde una recolección enorme que se expide por cargamentos enteros de navíos, y se vende por diez veces el valor de la producción. Es cierto que si la multitud de consumidores falta de trabajo y de salario llega a una pobreza extrema, no podrá comprar los productos, y condenada a morir de hambre, no enriquecerá a los especuladores. Pero estos no se ocupan del porvenir: ganar mucho primeramente, derrochar dinero a troche y moche y luego … ¡que se arreglen! Los que han de venir que se espabilen: “Después de nosotros el diluvio!”.
He ahí, queridos amigos, el destino que os está reservado a vosotros los que amáis la tierra regada con vuestro sudor, a la que os sentís atraídos por una fuerza cuyo secreto os lo explica el desenvolvimiento del embrión vegetal, al romper la tierra misteriosamente con sus blanquecinos tallos.
Os arrebatarán el campo y la cosecha, os cogerán a vosotros mismos y os uncirán a cualquier máquina, humeante y estridente, y ennegrecidos por el humo y el carbón, tendréis que balancear vuestros brazos sobre una palanca diez o doce mil veces por día, según los cálculos de vuestro tirano. A eso llamarán agricultura. Y nada de aventuras o hacer el amor cuando el corazón os haga sentir afectos hacia una mujer; no os volváis siquiera a mirar la joven que pasa: el capataz no consiente que se defraude trabajo al patrón. Si a este le conviene que os caséis para crear progenitura es que serás de su agrado; tendrás el alma de esclavo que él desea; serás bastante vil para que él autorice la perpetuación de una raza abyecta. El porvenir que os espera es el mismo que el del obrero y el niño de las fábricas. Jamás la esclavitud antigua pudo tan metódicamente amasar y formar la materia humana hsta reducirla al estado de herramienta. ¿Qué queda de humano en ese ser pálido, descarnado y escrofuloso que no respirará nunca otra atmósfera que la del humo, grasas y polvo?
Evitad esa muerte a cualquier precio, amigos míos. Conservad cuidadosamente vuestras tierras los que tenéis alguna; es vuestra vida, la de vuestras mujeres y de vuestros hijos a quién tanto amáis. Asociados con los compañeros cuyas tierras están amenazadas como las vuestras por el usurero, los grandes especuladores agrícolas y los aficionados a las grandes cacerías, cuya tendencia es convertir en bosque todos los campos roturados; olvidad las pequeñas rivalidades entre vecinos y agrupaos en comunidades en las que todos los intereses sean solidarios y cada puñado de tierra tenga como defensores a todos los miembros. Ciento, mil o diez mil seréis bastante fuertes para luchar con el señor terrateniente; sin embargo, no seréis bastante fuertes contra un ejército. Asociaos, pues, por comunidades y que la más débil disponga de la fuerza de todos. Más aún; haced un llamamientos a los que no poseen nada, desheredados de las ciudades, a quienes tal vez os hayan enseñado a odiar y que debéis amar, porque ellos ayudarán a conservar vuestras tierras y a reconquistar las que os han quitado. Con ellos podréis atacar y destruir todas las murallas y cercos que limitan las propiedades de los grandes señores de la tierra: con ellos podréis fundar la gran comunidad de los hombres libres, en la que se trabajará en concierto para vivificar el suelo, embellecerlo y vivir felices sobre esta buena tierra que nos da el pan. Pereceréis como esclavos y mendigos. “¿Tenéis hambre? -decía recientemente un alcalde de Argel a una comisión de humildes sin trabajo;- ¡pues bien, comeos unos a otros!”.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

IIRSA: Caminhos e agentes da pilhagem na América Latina


La Haine - [Ana Esther Ceceña, Tradução de Diário Liberdade]



Há um enorme peso do capital estadunidense nas atividades mais importantes. Isso autoriza a seguir falando do sujeito estadunidense como sujeito hegemônico.

Encontramo-nos atualmente em um momento de crise. Crise sistêmica que não anuncia uma queda ou estalar imediato, mas que é a expressão da vocação mutante do capitalismo e de sua capacidade de adaptação ou readequação às condições mutantes do acontecer não só econômico, mas também social. O caráter sistêmico da crise mostra a insustentabilidade civilizatória do capitalismo, mas não o elimina de maneira natural nem o impede de buscar sua recomposição. A crise dá passo a uma concentração de poder e riqueza muito maior e concede condições de força e ao mesmo tempo de vulnerabilidade um poder cada vez mais exclusivo e excludente que, em sua arrogância, vai colocando em operação mecanismos variados de suporte e de articulação ou coesionar em um entorno crescentemente contraditório.

A crise cíclica, nas circunstâncias atuais, é indicativa da incapacidade do mercado para garantir por si mesmo as condições gerais do processo de acumulação do capital e de apropriação privada da riqueza e, nesse sentido, apela aos mecanismos de contenção social para assegurar aquele que o mercado não consegue fazer coesão e controlar, sobretudo quando a economia capitalista é ao mesmo tempo legal e ilegal. A ninguém escapa que a crise econômica não está tocando os setores ilegais que, sem dúvida, contribuíram a gerá-la e muito provavelmente serão parte de sua solução.

Como queira, a crise exige uma mudança de estratégia e uma mudança de modalidade de dominação que abarca todas as dimensões da organização social, territorial e política do sistema, sobretudo porque a necessidade de restabelecimento das condições gerais de valorização correspondente aos momentos de ajuste cíclico, característicos do funcionamento regular do processo de acumulação de capital, ocorre agora em um contexto de questionamento integral, de crise sistêmica, de incapacidade para resolver internamente a contradição progresso-depredação que provém dos fundamentos mesmos da sociedade capitalista como lugar do domínio da natureza pelo homem.

Por esse motivo, a crise atual não é somente financeira e nem se resolver com subsídios e ajustes estatais ou com fusões e centralização de capital. Isso permite seguir adiante, mas simultaneamente agrava a situação do suicídio técnico no qual se encontra irremediavelmente o capitalismo, apesar de sua capacidade para manter o mundo inteiro sob suas regras de funcionamento, ainda que sabendo que tendem, paradoxalmente, à insustentabilidade da própria vida.

A IIRSA como estratégia de poder hegemônico


A força interna do capitalismo se defende e se reconstrói permanentemente através do desenho de um conjunto de estratégias integrais, multidimensionais, que se difundem planetariamente, entre as que se encontram nos megaprojetos de reordenamento territorial, que são necessariamente também de reordenamento político, como o da Integração da Infraestrutura Regional da América do Sul, a IIRSA. A principal virtude de projetos como IIRSA é a de ser capazes de restabelecer e potencializar as condições gerais da valorização, mais que a de gerar negócios suculentos em sua própria colocação em prática, coisa que também ocorre.

Observados desde uma perspectiva ampla, a IIRSA e o Plan Plueba Panamá são duas partes de um mesmo projeto: os dois foram supostamente idealizados por algum Presidente da região, em um caso Vicente Fox, no México, e em outro Fernando Henrique Cardoso, no Brasil. Com toda distância cultural, intelectual e política que há entre ambos, supostamente ao mesmo tempo desenharam dois projetos semelhantes e geograficamente empatados. As negociações e colocação em prática específicas variam de acordo com as condições sub-regionais, mas os fundamentos dos projetos não: construir uma infraestrutura de comunicações, transporte e geração de energia que constitua um ágil e dinâmico sistema circulatório que permita enlaçar as economias regionais ao mercado mundial.

Um único projeto de mercantilização total da natureza para uso massivo desde o centro do México até a ponta da Terra do Fogo (extremo sul da Argentina). Não se trata da exploração dos elementos naturais para o uso doméstico, nem local nem nacional, mas de sua exploração de acordo com as dimensões de um comércio planetário sustentado, em cerca de 50%, por empresas transnacionais. A infraestrutura que se propõe – e que se requer – é justamente a que permitirá a América Latina a se converter em uma peça chave no mercado internacional de bens primários, ao custo da devastação de seus territórios, abrindo novamente essas veias de abundância que sangram a Pachamama e que alimentam a acumulação de capital e a luta mundial pela hegemonia. O desenho desta infraestrutura vai do coração às extremidades, do centro da América do Sul até os portos no caso de IIRSA e de Colômbia-Panamá até a fronteira com os Estados Unidos no caso do Projeto Mesoamericano, novo nome do Plan Puebla Panamá.

A dimensão da exploração do território da América Latina e de extração de seus elementos valiosos se encontram em relação com dois níveis crescentes demandados por uma economia mundial que responde às vertiginosas necessidades de multiplicação dos próprios lucros, muito mais que as necessidades reais da população do mundo, e chama a uma agilização da circulação de mercadorias para reduzir ao máximo os momentos improdutivos do capital. O nível de extração e produção das empresas envolvidas, mesmo quando sua origem seja local, modificou-se em proporção a esta nova demanda de recursos. Casos como o da Vale do Rio Doce são sintomáticos das novas dinâmicas: empresa enraizada na produção mineira em uma zona de grande abundância de minerais é pouco a pouco estrangeirada através da colocação de ações na bolsa de valores de Nova Iorque ou semelhantes e seus níveis de produção, já grandes, multiplicam-se de acordo com as necessidades de valorização dos capitais proprietários. O ritmo dos trens que transportam o ferro ao porto se incrementou e a quantidade de vagões com cargas se multiplicou nos últimos anos, assegurando com isso a possessão privada, fora da terra, já em qualidade de mercadoria, de um elemento natural que se converteu em parte importante da disputa hegemônica. Com isto se gera a energia que constitui um ágil e dinâmico sistema circulatório que permite enlaçar as economias regionais ao mercado mundial.

A dimensão da exploração do território da América Latina e de extração de seus elementos valiosos se encontra em relação com os níveis crescentes demandados por uma economia mundial que responde às vertiginosas necessidades de multiplicação dos próprios lucros muito mais que das necessidades reais da população do mundo, e chama a uma agilização da circulação de mercadorias para reduzir ao máximo os momentos improdutivos do capital. O nível de extração e produção das empresas envolvidas, mesmo quando sua origem seja local, modificou-se em proporção a esta nova demanda de recursos.

O ritmo dos trens que transportam o ferro ao porto se incrementou e a quantidade de vagões carregados se multiplicou nos últimos anos, assegurando assim a possessão privada, além da terra, já em qualidade de mercadoria, de um elemento natural que se converteu em parte importante da disputa hegemônica. Com isto se acrescenta a pilhagem que foi objeto os povos latino-americanos desde há mais de 500 anos, com os inícios da conquista-colonização, e se submete os territórios, espaço da relação natureza-sociedade em uma depredação selvagem e irreversível.

A exportação de matérias-primas, vista pelos analistas macroeconômicos como um sinal de desenvolvimento e prosperidade, está alterando as condições mesmas da vida por seu caráter massivo e por responder a necessidades alheias às das sociedades locais. E o mesmo que ocorre com as modernas vias de transporte que se propõem e estão sendo habilitadas com a IIRSA. As rotas da IIRSA colocam o enorme território sul-americano à disposição das necessidades de pilhagem dos recursos estratégicos, como se pode observar no mapa abaixo que mostra o que eu considero o desenho estratégico da IIRSA.


Agora os canais interoceânicos não buscam a rota mais curta entre oceanos, mas a mais vasta, a mais rica. Os 80km do Canal do Panamá são agora substituídos pelos 20 mil km da rota amazônica. Esta diferença de critérios põe em evidência que a conexão tem outros propósitos que os buscados no passado, em conformidade com o aumento de capacidades e envergadura da apropriação capitalista. Com as rotas da IIRSA se assegura não somente a extração de recursos de cada uma de suas partes, mas que essa extração se realize de maneira articulada. Vinculam-se interesses nacionais ou locais com interesses transnacionais e inclusive estratégicos.

As rotas da IIRSA passam pelas fontes d'água, minerais, gás e petróleo; pelos corredores industriais do subcontinente; pelas áreas de diversidade genética mais importantes do mundo, pelos refúgios indígenas e por tudo aquilo que é valioso e apropriável na América do Sul. A ampliação das margens dos rios para dedicá-los ao trânsito intenso está colocando em risco os pantanais e degradando as condições de vida de espécies animais e vegetais ao mesmo tempo que violenta os modos de vida de comunidades aldeãs ou vinculadas; a exploração e exportação massiva de minerais castiga à selva com um tráfico pesado constante que vai se comendo rapidamente a mancha amazônica e ameaça os glaciares; as modalidades locais de organização da vida se veem confrontadas com uma dinâmica vertiginosa que não lhes corresponde e que as altera externa e irreversivelmente.




O quadro de interesses da IIRSA

Foram amplamente denunciados os danos presentes ou previsíveis que acompanham este projeto e ainda assim a insistência por mantê-lo é tenaz. Cabe se perguntar então que tipo de interesses prevalecem sobre os altíssimos riscos ecológicos e sociais que entranha a IIRSA.

Por um lado, o fato de contar com a anuência ou inclusive o entusiasmo de muitos dos governos latino-americanos é resultado de uma combinação na qual governos e empresas locais recebem alguns benefícios que, em seu nível, podem ser significativos.

Por outro lado, evidentemente uma rede infraestrutura das características planejadas é sem dúvida um facilitador das atividades extrativas, e econômicas em geral, dos grandes capitais do mundo em busca de recursos competidos e valiosos, que em muitos casos podem ser considerados estratégicos para a reprodução global do sistema e, portanto, para o asseguramento não só das condições de vida do capitalismo, mas também da hegemonia.

A construção mesma da infraestrutura parece não ser a chapa mais cobiçada. As grandes transnacionais tem como foco de interesse a exploração dos recursos, muito mais que os negócios grandes para os investidores locais, mas relativamente pequenos para elas, da construção de estradas, ferrovias, hidrovias, represas e outros semelhantes.

Pela maneira como se comportaram os governos e as empresas, parece ter quase um acordo de complementaridade no qual ambos se beneficiam e por isso mesmo ambos defendem o projeto como próprio. A variegação de interesses acrescentou ultimamente pela entrada de capitais estrangeiros em empresas locais, a maioria das vezes relacionadas com as atividades extrativas, como é o caso da Vale do Rio Doce. Estas empresas se potencializam, aumentam sua produção e, evidentemente, suas exportações; vinculam-se mais estreitamente ao mercado mundial, mas seguem aparecendo como nacionais quando em vários casos seu capital já é majoritariamente estrangeiro.

Talvez a empresa latino-americana mais favorecida pela IIRSA atualmente é a Odebrecht, que se anuncia como empresa brasileira. Por se tratar de uma empresa de engenharia e construção, nesta primeira etapa se envolveu em projetos em toda a região de IIRSA.

Odebrecht tem investimentos na América em 13 países, além do Brasil. Abarca geograficamente desde o México até a Argentina, com atividades também no Caribe (República Dominicana), América Central (Costa Rica, Panamá) e América do Sul (Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai), como se pode observar no mapa abaixo, que mostra a proximidade das áreas de seus projetos de investimento com as que contém os recursos mais valiosos.



Nas atividades extrativas historicamente se registrou a presença de grande transnacionais estrangeiras, e daí esta vinculação de interesses que mencionávamos. É um setor no qual a competência dificulta a entrada de capitais nacionais, sobretudo depois da desproteção e a mudança de critérios sobre os patrimônios nacionais induzidos pelo neoliberalismo.

Revisando as listas das 500 maiores empresas do mundo elaborada desde há um longo tempo pela revista Fortune, e aquelas das 500 maiores da América elaborada pela revista América Economia, o que se observa é a escassa participação de empresas latino-americanas nas atividades de maior envergadura. Ainda quando se encontrem nestas atividades, sua participação é de muito menor monta, exceto nos casos da Odebrecht, Aracruz e Votorantim, as três originalmente brasileiras.

A extração de petróleo e gás tem em alguns países exclusividade de empresas do Estado, mas, no que toca ao restante, as empresas principais neste setor são Exxon, Royal Dutch, British Petroleum, Chevron, CONOCO-Philips, ENI, Petrobras, Repsol-YPF, SK, Occidental Petroleum, Lukoil, EnCana e Oil and Natural Gas. A localização de projetos destas empresas não deixa dúvida de seu bom tino pois se encontram em todas as regiões de importantes jazidas, como se observa no mapa. Estas localizações ficam bem protegidas pelas facilidades infraestruturais projetadas pela IIRSA, de modo que seu acesso ao mercado mundial, já bastante ágil, se veria ainda muito melhor. Veja o mapa abaixo.



Os minerais, elementos que formam a estrutura material básica dos processos produtivos, tem na América Latina um de seus espaços de maior diversidade e abundância. Os minerais metálicos são foco de atração de grandes empresas de dimensão planetária como Anglo American, BHP Billinton, Río Tinto, Vale, Xstrata e Nippon Mining Holdings, e sua distribuição territorial as leva a diversas regiões sul-americanas que em todos os casos terão a virtude de ser articuladas através das rotas de IIRSA (ver mapa abaixo).



A apropriação de bosques, naturais ou gerados artificialmente, tem suas principais zonas em pontos muito específicos. Seu distribuição territorial é muito menos extenso que os das atividades anteriores, mas se trata também de capitais de grande envergadura, vinculados com a produção de celulose e papel (mapa abaixo).



Basta observar o que está acontecendo no estado brasileiro do Pará, originalmente selvagem, hoje cheio de pastos para o gado e crateras mineiras que desflorestam, transformam lógicas locais de socialidade e organização da reprodução.

As principais empresas que se encontram no setor são Stora Enzo, Weyerhauser, Aracruz Celulose, Votorantim Celulose, Kablin, Suzano Papel e Celulosa, CELCO e CMPC, as duas últimas com investimentos no sul do Chile.

Evidentemente, além de todas as empresas mencionadas há um quadro de empresas menores vinculadas com as atividades das grandes, entretanto são completamente dependente destas, ou seus níveis de produção não repercutem nos grandes mercados e nem definem as dinâmicas da economia.

A ideia de mostrar a distribuição geográfica destes grandes investimentos provém do interesse de revisar a capacidade destes agentes capitalistas para ocupar e definir o território e suas dinâmicas. Uma das coisas que nos deve preocupar é como o território está sendo expropriado e como projetos como IIRSA reforçam essa tendência.

E, em realidade, ainda que neste terreno possamos constatar a grande quantidade e diversidade dos interesses em jogo, é o sujeito hegemônico que marcha à cabeça do processo. Nós temos um cálculo do território estrangeiro ocupado por bases militares estadunidenses mas seria necessário medir o ocupado pelas propriedades das empresas para ter uma ideia cabal da dimensão territorial da dominação.

Com esses cálculos poderíamos nos encontrar em melhores condições para analisar se a IIRSA é um projeto dos Estados sul-americanos ou uma exigência desses grandes capitais que arrastam os Estados a formularem as políticas que os beneficiam, porque quais são os Estados hoje se não uma parte desse sujeito econômico, desse sujeito dominante que às vezes se chama capital brasileiro, às vezes capital equatoriano, muitíssimas vezes capital estadunidense mas que, finalmente, revela uma fusão de interesses em relação com o grande capital das empresas transnacionais, impulsionadas, protegidas e representadas pelo Estado norte-americano.

Inclusive hoje, ainda que seja difícil de falar da nacionalidade do capital, efetivamente há um enorme peso do capital estadunidense em todas mais importantes atividades, mais dinâmicas e com maior futuro no mundo. Isso autoriza a seguir falando do sujeito estadunidense como sujeito hegemônico, ou seja, esse grande capital que se aglutina em torno do Estado estadunidense, ainda que tenha alguns mexicanos, brasileiros, japoneses ou capitais provenientes de qualquer outro lugar, mas incorporados organicamente a essa estrutura de poder.

Nota

(1) Este trabalho contou com a valiosa contribuição de Rodrigo Yedra, membro do Observatório Latino-americano de Geopolítica.

Ana Esther Ceceña
é Diretora do Observatório Latino-americano de Geopolítica no Instituto de Investigações Econômicas, Universidade Autônoma do México. Coordenadora do grupo de trabalho Hegemonias e Emancipações de CLACSO. Livros: Producción estratégica y hegemonía mundial (México: Siglo XXI); Hegemonías y emancipaciones en el siglo XXI (Buenos Aires-Sao Paulo: CLACSO); Desafíos de las emancipaciones en un contexto militarizado (Buenos Aires: CLACSO); Derivas del mundo en el que caben todos los mundos (México: Siglo XXI); De los saberes de la dominación y la emancipación (Buenos Aires: CLACSO).


Traduzido para Diário Liberdade por Lucas Morais

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Mira y Resiste: Lucio (2007)

SOCIALISMO - LUCIO (Aitor Arregi e Jose Mari Goenaga - 2007) Falado em Espanhol
Documentário sobre a vida de Lucio Urtubia. Anarquista, falsificador, contrabandista e operário. Conhecido no mundo inteiro por falsificar cheques de viagem do First National City Bank (hoje Citibank) na década de 70, pondo em risco uma das principais instituições financeiras do mundo e roubando do banco cerca de US$ 20 milhões. O dinheiro arrecadado foi usado para várias causas revolucionárias. Documentos falsificados e passaportes para ativistas do mundo inteiro. Ele colaborou com os Tupamaros, com grupos anti-fascistas de resistência, ETA, ERP, GARI, etc

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Breve Histórico da Luta Popular e do Anarquismo no Brasil


Artigo Editorial do informativo LIBERA 150.

O anarquismo enquanto uma ideologia, ou seja, um sistema de idéias e valores que possui relação direta com a prática política e a transformação revolucionária; aporta no Brasil com os imigrantes, mas se consolida como uma ferramenta de luta dos trabalhadores “nativos”. Aqui, a estratégia política anarquista para os sindicatos, o sindicalismo revolucionário torna-se a principal metodologia adotada pelos operários nos principais centros industriais do país.

Sindicalismo Revolucionário e Anarquismo no Brasil

O surgimento do anarquismo está indissociavelmente ligado a formação e as estratégias de luta da classe trabalhadora, especificamente na Europa da segunda metade do século XIX, época que Proudhon considerava como o momento em que “(...) as classes operárias adquiriram consciência delas próprias”. As experiências de um conjunto significativo [1] dos oprimidos pelo seu projeto de ruptura com a sociedade capitalista, naquele momento definiram os “últimos” contornos da proposta anarquista, cujo marco ideológico mais nítido pode ser identificado com os conflitos dos socialistas revolucionários [2] “bakuninistas” com o socialismo autoritário marxista.

O anarquismo enquanto uma ideologia, ou seja, um sistema de idéias e valores que possui relação direta com a prática política e a transformação revolucionária; aporta no Brasil com os imigrantes, mas se consolida como uma ferramenta de luta dos trabalhadores “nativos”. Aqui, a estratégia política anarquista para os sindicatos, o sindicalismo revolucionário torna-se a principal metodologia adotada pelos operários nos principais centros industriais do país. A ação direta, a autonomia da classe e a democracia direta, de base, são exemplos dos princípios postos em prática pelos trabalhadores para conquistarem seus direitos e necessidades. Nas três primeiras décadas do século XX, as organizações da classe trabalhadora, potencializadas pelo sindicalismo revolucionário, esforçam-se por lutar contra as investidas das elites dominantes e a nascente burguesia, que se valem, por exemplo, do estado de sítio para atacar os trabalhadores, tratando a questão social, como um “caso de polícia”. Algumas conquistas históricas da classe trabalhadora serão alcançadas neste período, como por exemplo, as oito horas de trabalho. A transformação radical permanecerá no horizonte da classe, à despeito da atuação dos sindicatos amarelos [3] (reformistas). À precarização crescente do/a trabalhador/a no período da Primeira Grande Guerra, a Confederação Operária Brasileira responderá com uma grande greve geral. E em 1918, uma insurreição armada, seguida de uma greve geral, tentará fundar um soviete [4] brasileiro, inspirada na prática generalizada de autoinstituição da classe trabalhadora russa, que emerge com mais relevância em 1905 e se radicaliza em 1917, na Revolução Russa.

A combatividade dos/as trabalhadores/as dos grandes centros industriais brasileiros do período será alvo de uma intensa repressão, que atingirá especialmente os anarquistas nas décadas de 10 e 20. Na Rússia de Trotsky e Lênin, os marinheiros de Kronstadt, os anarquistas, socialistas e setores de esquerda que não comungam totalmente com as propostas políticas do partido bolchevique são esmagados em 1921; a oposição interna e a democracia do partido bolchevique já tinham sido esmagadas desde 1919. São os germes do totalitarismo. É desta época também, visivelmente inspirada nos preceitos bakuninistas, a tentativa de consolidação da organização específica anarquista (Aliança Anarquista em 1918 e Partido Comunista [5] , o libertário em 1919) em território nacional, iniciativa que é interrompida não só pela repressão, mas também pelo “excesso de sindicalismo” que acomete os/as militantes anarquistas brasileiros/as.

Em 1937 o Estado Novo arrasa as entidades de classe, atrelando os sindicatos ao estado e reprimindo brutalmente os opositores políticos. O sindicalismo revolucionário, principal estratégia anarquista para a classe esvazia-se e com ela, o anarquismo sofre um duro golpe. A opção pela atuação parlamentar do PCB no período; introduz um forte elemento burguês na atuação da classe, dividindo os/as trabalhadores/as e subordinando a luta social à luta parlamentar.

Os anarquistas durante a ditadura getulista (1937-1945) e a reabertura democrática (1946 – 1954)

Ao contrário de algumas interpretações tradicionais, que subordinam os acontecimentos históricos aos aportes conceituais de pouco refinamento, o anarquismo não desaparece nem com a fundação do PCB em 1922, nem com o Estado Novo em 1937. O anarquismo está fragilizado, mas os anarquistas não deixam de se organizar. Os contatos, ainda durante o Estado Novo (1937-1945) jamais cessam, mesmo que clandestinos. Reorganizam-se no bojo do congresso anarquista de 1948 e fortalecem suas organizações específicas (União Anarquista do Rio de Janeiro, União Anarquista de São Paulo, etc), mas a presença anarquista nos sindicatos é frágil, apesar da valente propaganda ideológica de seus periódicos [6] . A hegemonia política da esquerda no Brasil é do PCB. Este defende a “Constituinte com Getúlio” unindo-se a setores da burguesia “progressista”, linha já definida pela lógica de atuação do comunismo internacional, e em 1945 chega até a condenar e barrar as greves operárias em prol da consolidação democrática no mesmo ano, ferindo a autonomia da classe.

O período supostamente democrático que se segue ao fim do Estado Novo não esconde os ataques aos direitos e a autonomia dos trabalhadores pelo governo Dutra (1946-1954); a estrutura corporativista que conecta os sindicatos se mantém. A autonomia e a independência de classe que caracterizam a atuação dos sindicatos no início do século serão substituídas por uma relação de subordinação às estruturas governamentais. Tanto do ponto de vista da estrutura sindical corporativista e da ideologia populista, que transformam o sindicato num apêndice do Estado, quanto da atuação parlamentar do PCB, que subordina as lutas à sua estratégia legalista. Em termos globais, o mundo está politicamente dividido entre os blocos do capitalismo e do socialismo “real”, prenunciando a famosa Guerra Fria. O suposto socialismo da URSS neste período é denunciado pelos/as anarquistas brasileiros/as como um imenso capitalismo de estado; à despeito das interpretações trotsquistas que lhe imprimem um suposto caráter de Estado Socialista “degenerado”, o estado soviético configura-se como um aparato monstruoso de opressão e extermínio [7] dos dissidentes, um totalitarismo de Estado e o domínio uma nova classe, a classe dos gestores [8] . Diga-se de passagem, é importante citar que a militarização dos sindicatos, a verticalização das decisões políticas e a relação de subordinação da classe pelo partido bolchevique, fora delineada e operacionalizada, por Lênin e Trotsky.

Em 1964 um novo golpe civil-militar, apoiado por grandes empresários, setores conservadores, e arquitetado pelos militares convulsiona o país. Parte da esquerda opta então pela resposta armada, e apesar de muito aguerrida, a estratégia foquista, inspirada numa suposta superioridade política da vanguarda comunista sobre a classe, inviabiliza o acúmulo de força social necessário para derrotar a ditadura, pois possui pouca relação com as necessidades e questões do cotidiano dos/as trabalhadores/as. No Brasil, a atuação dos/as anarquistas, apesar de modesta não seria passada despercebida pela ditadura. Integrantes do Movimento Estudantil Libertário e do Centro de Estudos Professor José Oiticica serão presos e torturados. O anarquismo, assim como outras ideologias da esquerda contrárias a ditadura, também fora proibido pelo sombrio regime militar.

Luta Popular e anarquismo hoje: da abertura democrática (1981 – hoje) aos movimentos sociais contemporâneos

O anarquismo que emerge no período da reabertura democrática é cético com a principal cartada da esquerda no período: a democracia burguesa. Enquanto a principal força da esquerda (PT) se esforça para compatibilizar a estratégia eleitoral burguesa com as lutas de base (sindicatos, movimentos populares e estudantis), os anarquistas estão inseridos em diferentes movimentos populares apostando na auto-organização da classe, o que alguns chamarão de criação de um povo forte. O anarquismo brasileiro que emerge no período democrático é um anarquismo mais amadurecido e apesar do contexto de reconstrução dos laços políticos libertários, é crítico consigo mesmo. Fazem parte deste contexto interno do anarquismo, o aprofundamento do plano teórico libertário, o trabalho de base, a unidade teórica e ideológica, a luta popular e a necessidade das organizações específicas anarquistas, que constituem nossa tradição anarquista.

A caminhada do PT rumo à conquista das instituições burguesas prenuncia o que os anarquistas denunciavam há décadas: a incompatibilidade da luta popular de base transformadora e radical com a democracia representativa burguesa. Paulatinamente a luta popular é subordinada pela luta parlamentar e pelo imaginário capitalista [9] que vem acoplado à sua dinâmica. A crise do PT que é muito anterior a eleição de Lula, não fora uma “crise de direção” como alguns setores da esquerda apontam, mas sim uma crise de concepção, já traçada na teoria marxista-leninista de subordinação da classe pelo partido. Acossado pelo jogo burguês, o partido se molda gradativamente a dinâmica eleitoral. O PT, que abandonara o vocabulário socialista bem antes da eleição de Lula, já renunciava ao seu projeto socialista muito antes da crise do mensalão em 2003. Portanto é incorreto afirmar, como o fazem os novos/velhos partidos que surgem no período e que reproduzem a mesma estratégia equivocada, que somente em 2003 o PT deixou de ser um “instrumento histórico” da classe trabalhadora.

A eleição de Lula/Dilma pacifica os movimentos sociais atrelados ao PT e de sua base aliada. Neste período, os movimentos sociais são incorporados por meio da cooptação de lideranças, pacificados pelo atrelamento de suas agendas de luta ao calendário e dinâmica institucional do Estado burguês ou simplesmente reprimidos, quando se atrevem a enfrentar os inimigos de classe. Direitos históricos dos/as trabalhadores/as são atingidos/as no âmbito da perversa ofensiva neoliberal. Do ponto de vista latino-americano, o ataque se chama IIRSA, um plano intercontinental de integração do capitalismo: mais roubo, mais exploração, mais saque dos “recursos” naturais. Prepara-se neste período uma grande ofensiva de criminalização da pobreza e de controle social em âmbito nacional: UPP’s, PAC, desmonte dos direitos básicos dos trabalhadores (saúde, educação, moradia, etc) e benefício do grande capital transnacional.

Estratégia Popular e Anarquismo

Acreditamos que o momento é de fincar as raízes dum projeto de organização e poder popular. Não há revolução sem crise; mas a crise não é mero produto de “contradições” do capitalismo, a crise é a medida da nossa capacidade, enquanto povo, de prepararmos e operarmos uma ofensiva enquanto classe contra as estruturas que nos oprimem, e isto inevitavelmente requer organização. Para isto, do ponto de vista do projeto de poder popular e dos movimentos sociais, acreditamos que a tarefa é preparar pacientemente o trabalho de base nos espaços da nossa classe (sindicatos, bairros, favelas, ocupações, comunidades, assentamentos, etc.). Reconstruir os laços sociais destruídos pelo capitalismo, reforçar a organização popular e atender as necessidades do nosso povo, por meio da ação e da democracia direta, da solidariedade e da autonomia. O trabalho de base requer sistematicidade, perseverança e organização e acima de tudo, deve dar protagonismo ao conjunto da classe (e não à meia dúzia de iluminados): o que chamamos de criar um povo forte.

Do ponto de vista do anarquismo, defendemos um anarquismo classista, voltado para a luta popular. Um anarquismo que não vá nem a frente, nem se deixe levar à reboque das lutas, mas que se constitua como uma ferramenta revolucionária, dentre as possíveis, de emancipação popular, portanto, um anarquismo atual. Para reunirmos nossas forças, defendemos a necessidade da organização específica anarquista; fundamental para concentrar as energias dos/as anarquistas em tarefas articuladas coletivamente sob um fundo estratégico comum.

Neste sentido, a última década assistiu a um passo muito importante para os/as anarquistas em solo brasileiro. Juntos/as às organizações que compõem o Fórum do Anarquismo Organizado (FAO - Brasil), caminhamos modestamente, na articulação de um projeto nacional de anarquismo. Este projeto, em permanente construção, ainda tem muito o que realizar, mas sem dúvida nenhuma é um passo relevante no amadurecimento organizativo do anarquismo brasileiro.


[1] Como a Comuna de Paris.
[2] Chamados à época de coletivistas.
[3] Que curiosamente mantinham uma aliança com os comunistas do PCB.
[4] Os sovietes existiam desde 1905 na Rússia. Fruto da experiência da classe, os comunistas em 1905 condenavam a participação dos bolcheviques nos sovietes.
[5] Não confundir com o Partido Comunista de orientação marxista-leninista, fundado em 1922. O termo comunismo também era utilizado pelos anarquistas no período.
[6] Referimo-nos a Ação Direta, A Plebe (2ª edição) e Remodelações. Fundamental citar também o jornal Ação Sindical.
[7] Anterior ao stalinismo, diga-se de passagem. Em 1921, os marinheiros e militantes de esquerda que divergiam do aparelhamento do Partido Bolchevique foram fuzilados, deportados e presos pelo governo bolchevique, pelas ordens de Lênin e Trotsky.
[8] Defendemos que uma classe dominante não se define apenas pela apropriação da mais-valia, mas também pela gestão do modo de produção.
[9] Como a separação dirigentes e executores, característica do capitalismo.

Por Federação Anarquista do Rio de Janeiro
Related Link: http://www.farj.org

Extraído de: http://www.anarkismo.net/article/20543

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Um pouquinho de Teoria - Parte II

TEORIA DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICA ANARQUISTA

“Possuir a capacidade política é ter consciência de si
como membro de uma coletividade,
afirmar a idéia que daí resulta e perseguir sua realização.”
P.-J. Proudhon

“O anarquismo é o viajante que toma as ruas da história
e luta com os homens tais como são e constrói
com as pedras que lhe proporciona sua época.”
Camillo Berneri


 O tema da teoria da organização política foi tratado a partir de cinco eixos principais: prática política, organização específica, estratégia e tática, ação de massas e luta avançada. Serão pontuados alguns aspectos em relação aos eixos.

Prática política
A teoria aponta para a elaboração de conceitos e de um método para pensar e conhecer rigorosamente a realidade social e histórica. A análise profunda e rigorosa de uma situação concreta será um trabalho teórico o mais científico possível. A ideologia é composta de elementos de natureza não científica, que contribuem para dinamizar a ação. A expressão de motivações, a proposta de objetivos, de aspirações, de metas ideais, isso pertence ao campo da ideologia. Uma prática política eficaz exige o conhecimento da realidade (teoria), a postulação harmônica com ela de valores objetivos de transformação (ideologia) e meios políticos concretos para conquistá-la (prática política).

Organização específica anarquista
Para distinguir seu programa e não diluir sua bandeira na massa das forças sociais os anarquistas formam uma organização específica para a prática política. Por suas finalidades revolucionárias, a organização só reúne uma minoria ativa para poder atuar na luta pública e fora dela. A organização é uma federação de militantes com unidade ideológica e estratégico-tática, com democracia interna e uma disciplina consciente para suas realizações. O anarquismo organizado não substitui nem representa as organizações sindicais e populares. Dentro dessa concepção, não é um partido para tomar o poder, mas para ajudar a desenvolver capacidade política nas massas para construir poder popular.

Estratégia e tática
A atividade de uma organização política supõe uma previsão do devir possível dos acontecimentos durante um lapso mais ou menos prolongado, previsão que inclui a linha de ação a adotar pela organização frente a esses acontecimentos de maneira a influir sobre eles no sentido mais eficaz e adequado. Uma linha estratégica é, habitualmente, válida enquanto perdura a situação geral a qual corresponde. As opções táticas, na medida em que respondem a problemas mais precisos, concretos e imediatos, podem ser mais variadas, mais flexíveis. Sem dúvida não podem estar em contradição com a estratégia.

Ação de massas
A organização das forças populares, dos movimentos e organizações das classes oprimidas é parte fundamental da estratégia anarquista. Estar organizado socialmente e inserido nas lutas é um critério para atuar como força política. A classe trabalhadora e os movimentos sociais devem se organizar com independência de governos, partidos e patrões. A luta de massas é um espaço para fazer unidade em defesa dos interesses de classe. O anarquismo deve atuar como fermento moral e intelectual, levando seus métodos de luta e organização como um anticorpo de luta permanente contra a burocracia, o centralismo autoritário e a colaboracionismo. O lugar das ideologias na frente social não é o de protagonismo imediato, de partidarização, mas circulação de idéias, métodos e valores a partir das situações concretas que formam as experiências da luta.

Luta avançada
O problema da violência, como categoria da política, é fundamental num processo revolucionário que procure abater as estruturas de poder do capitalismo. A luta avançada é uma parte decisiva da prática política de uma organização revolucionária que atua também, com uma estratégia articulada e global, no nível das lutas populares. A luta revolucionária por objetivos socialistas deve contar com o protagonismo de um setor importante das massas e por isso não dispensa o trabalho político e ideológico no interior dos seus movimentos. A organização de uma força militante como elemento de choque e recurso técnico prévio da radicalização das lutas contra o poder burguês é uma exigência para uma estratégia vitoriosa de revolução social.


MARCO TEÓRICO E CATEGORIAS DE ANÁLISE (MÉTODO DE ANÁLISE)

Para o trabalho de análise, com a utilização de um método determinado, houve a necessidade de distinguir, como colocado, as categorias de ideologia e estratégia. A formação pontuou: O socialismo é uma aspiração, uma esperança dos povos e das classes oprimidas (ideologia). Mas precisa ter sua elaboração teórica, vinculada ao terreno do saber, dos estudos e da análise social rigorosa (teoria). Isso implica, portanto, ter claro quais são os elementos mais fixos que constituem a ideologia, e quais são os elementos teóricos, que funcionarão como uma caixa de ferramentas e que terão por objetivo proporcionar elementos para que se possa conhecer; nesse sentido, as ferramentas teóricas não têm, necessariamente, de ser anarquistas, ainda que se deva ter em conta a relação entre ideologia e teoria, ferramentas que devem proporcionar elementos para uma compreensão adequada do sistema, das formações sociais, da conjuntura. Nesse sentido, a teoria busca conhecer e a ideologia transformar.

Capitalismo como sistema de dominação
O capitalismo é um sistema. Sistema é um conceito para discernir o “núcleo duro”, a configuração dos elementos constitutivos que fundam e dão sentido a uma totalidade social. O capitalismo constitui um sistema de dominação que tem por constituição fundamental alguns elementos: Propriedade privada; exploração; disciplinamento dos corpos; a modalidade de representação, administração e justiça; um sistema coercitivo e repressivo; a existência de classes sociais; exclusão social. Esse sistema de dominação está formado por uma estrutura global formada por distintas esferas, entre elas: estrutura econômica; estrutura política-jurídica-militar; estrutura ideológica-cultural (idéias, representações, comportamentos, modo de informação, tecnologias de poder a ela unidas). Estrutura é o conjunto de elementos de uma organização social e suas relações, presentes no sistema de dominação. O capitalismo, concebido globalmente como sistema de dominação, possui agentes que impulsionam essa dominação em todas as esferas. Por exemplo: Política: organizações internacionais (FMI, Banco Mundial, OMC, União Européia, OTAN, etc); Economia: empresas transnacionais, bancos; Ideológico: conglomerados de mídia.

Interdependência das esferas
O método apresentado na formação baseia-se na interdependência das esferas e, portanto, entende o sistema como um todo no qual uma esfera influencia, sustenta e torna as outras dependentes. O sistema de dominação (capitalismo) é constituído por uma estrutura global formada por distintas esferas, estrutura esta que não têm determinação outra a não ser a interdependência. As distintas esferas da estrutura tem autonomia relativa, com elementos específicos que constituem no seu interior outras esferas menores. A dominância de uma estrutura sobre a outra não se estabelece a priori, é produto das análises respectivas. O sistema de dominação é dinâmico e atravessa várias etapas históricas mantendo elementos estruturais que o reproduzem de distintas maneiras.

Poder, dominação, resistência e as distintas esferas da sociedade
A estruturação da sociedade está baseada em última análise nas relações de poder e dominação, relações fundamentais que atravessam todas as esferas e configuram modos de articulação da estrutura global com seu característico núcleo duro. O poder circula por todo o corpo social, pelas diferentes esferas estruturadas. Vale dizer por todas as relações sociais. O poder está nas relações sociais, nos diferentes campos das relações sociais e o aparelho de Estado estaria contendo com toda sua dimensão, circulando pelo seu interior,certa síntese de poder dominante. Sendo assim, o poder não reside nas estruturas nem nas instituições, mas no campo das relações sociais. E não somente no político, mas também no econômico, ideológico, jurídico e todas as instituições do sistema. Teríamos assim poder no econômico, jurídico-político-militar, ideológico-cultural. Nesse sentido, há resistências nas distintas esferas que podem ser maiores ou menores, mais ou menos ameaçadoras ao sistema de dominação.

Poder e Estado
As instituições, os aparelhos, as estruturas não são amorfas, estão sempre penetradas pelo poder. Articulada a estrutura de produção, por exemplo, está o poder, as classes e as lutas. O aparelho de Estado contém certa síntese de poder dominante que circula no seu interior. Não se pode definir o Estado como o conjunto da sociedade e nem equiparar Estado e poder. O Estado é o lugar de “condensação” de diversos poderes, um lugar específico que tem sua própria “autonomia relativa” e que é capaz de manter e reproduzir privilégios de diferentes ordens. Sua dinâmica é centralizadora, apta só para dominação, sua função é repressora e controladora. Os conceitos básicos para o Estado o definem como monopólio da força repressiva organizada, da “justiça”, estrutura de privilégios, centralizadora, anuladora do que não controla.

Formações sociais e conjuntura
As formações sociais concretas são o campo da análise descritiva de sociedades históricas onde o sistema de dominação tem determinação em estado prático. O grupo de acontecimentos que marcam um momento específico das formações sociais e suas estruturas fundamentais formam a conjuntura.

Ideologia e sujeito
Determinados momentos históricos produzem com peso um conjunto articulado de idéias, representações, noções no interior do imaginário dos distintos sujeitos sociais. Um conjunto articulado de caráter imaginário, que toma a forma de “certezas” defendidas pelos mesmos sujeitos sociais. Isto é o que pode transformar estes sujeitos em protagonistas de sua própria história ou em sujeitos passivos e/ou disciplinados pelas forças dominantes. Isto é o que chamamos de ideologia (não confundir a ideologia da sociedade que se fala aqui com a ideologia anarquista, tratada anteriormente). Ideologia não é falsa consciência. O sujeito real não está representado na figura do “eu”, na consciência, mas é constituído na estrutura do inconsciente, isto é, nas formações ideológicas em que ele se reconhece. O que o sujeito vive e como vive cotidianamente, historicamente, no marco de determinados dispositivos, seria o elemento principal de mudança de sua consciência. É construindo força social e tomando ativa participação nela que se podem formar embriões da nova civilização ou do “homem novo”, de outro sujeito. Digamos que este é o tema de como se transforma a consciência, para usar a linguagem clássica. Pelo que tem se visto a economia por si não transforma a consciência. O que o sujeito vive e como vive cotidianamente, historicamente, no marco de determinados dispositivos, seria o elemento principal de mudança de sua consciência. O que está no centro da história não é o homem, mas as lutas de poder e economia. Os fazedores de história seriam especialmente classes (grandes coletivos) operando como forças sociais.