TEORIA DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICA ANARQUISTA
“Possuir a capacidade política é ter consciência de si
como membro de uma coletividade,
afirmar a idéia que daí resulta e perseguir sua realização.”
P.-J. Proudhon
“O anarquismo é o viajante que toma as ruas da história
e luta com os homens tais como são e constrói
com as pedras que lhe proporciona sua época.”
Camillo Berneri
como membro de uma coletividade,
afirmar a idéia que daí resulta e perseguir sua realização.”
P.-J. Proudhon
“O anarquismo é o viajante que toma as ruas da história
e luta com os homens tais como são e constrói
com as pedras que lhe proporciona sua época.”
Camillo Berneri
O tema da teoria da organização política foi tratado a partir de cinco
eixos principais: prática política, organização específica, estratégia e
tática, ação de massas e luta avançada. Serão pontuados alguns aspectos
em relação aos eixos.
Prática política
A teoria aponta para a elaboração de conceitos e de um método para
pensar e conhecer rigorosamente a realidade social e histórica. A
análise profunda e rigorosa de uma situação concreta será um trabalho
teórico o mais científico possível. A ideologia é composta de elementos
de natureza não científica, que contribuem para dinamizar a ação. A
expressão de motivações, a proposta de objetivos, de aspirações, de
metas ideais, isso pertence ao campo da ideologia. Uma prática política
eficaz exige o conhecimento da realidade (teoria), a postulação
harmônica com ela de valores objetivos de transformação (ideologia) e
meios políticos concretos para conquistá-la (prática política).
Organização específica anarquista
Para distinguir seu programa e não diluir sua bandeira na massa das
forças sociais os anarquistas formam uma organização específica para a
prática política. Por suas finalidades revolucionárias, a organização só
reúne uma minoria ativa para poder atuar na luta pública e fora dela. A
organização é uma federação de militantes com unidade ideológica e
estratégico-tática, com democracia interna e uma disciplina consciente
para suas realizações. O anarquismo organizado não substitui nem
representa as organizações sindicais e populares. Dentro dessa
concepção, não é um partido para tomar o poder, mas para ajudar a
desenvolver capacidade política nas massas para construir poder popular.
Estratégia e tática
A atividade de uma organização política supõe uma previsão do devir
possível dos acontecimentos durante um lapso mais ou menos prolongado,
previsão que inclui a linha de ação a adotar pela organização frente a
esses acontecimentos de maneira a influir sobre eles no sentido mais
eficaz e adequado. Uma linha estratégica é, habitualmente, válida
enquanto perdura a situação geral a qual corresponde. As opções táticas,
na medida em que respondem a problemas mais precisos, concretos e
imediatos, podem ser mais variadas, mais flexíveis. Sem dúvida não podem
estar em contradição com a estratégia.
Ação de massas
A organização das forças populares, dos movimentos e organizações das
classes oprimidas é parte fundamental da estratégia anarquista. Estar
organizado socialmente e inserido nas lutas é um critério para atuar
como força política. A classe trabalhadora e os movimentos sociais devem
se organizar com independência de governos, partidos e patrões. A luta
de massas é um espaço para fazer unidade em defesa dos interesses de
classe. O anarquismo deve atuar como fermento moral e intelectual,
levando seus métodos de luta e organização como um anticorpo de luta
permanente contra a burocracia, o centralismo autoritário e a
colaboracionismo. O lugar das ideologias na frente social não é o de
protagonismo imediato, de partidarização, mas circulação de idéias,
métodos e valores a partir das situações concretas que formam as
experiências da luta.
Luta avançada
O problema da violência, como categoria da política, é fundamental num
processo revolucionário que procure abater as estruturas de poder do
capitalismo. A luta avançada é uma parte decisiva da prática política de
uma organização revolucionária que atua também, com uma estratégia
articulada e global, no nível das lutas populares. A luta revolucionária
por objetivos socialistas deve contar com o protagonismo de um setor
importante das massas e por isso não dispensa o trabalho político e
ideológico no interior dos seus movimentos. A organização de uma força
militante como elemento de choque e recurso técnico prévio da
radicalização das lutas contra o poder burguês é uma exigência para uma
estratégia vitoriosa de revolução social.
MARCO TEÓRICO E CATEGORIAS DE ANÁLISE (MÉTODO DE ANÁLISE)
Para o trabalho de análise, com a utilização de um método determinado,
houve a necessidade de distinguir, como colocado, as categorias de
ideologia e estratégia. A formação pontuou: O socialismo é uma
aspiração, uma esperança dos povos e das classes oprimidas (ideologia).
Mas precisa ter sua elaboração teórica, vinculada ao terreno do saber,
dos estudos e da análise social rigorosa (teoria). Isso implica,
portanto, ter claro quais são os elementos mais fixos que constituem a
ideologia, e quais são os elementos teóricos, que funcionarão como uma
caixa de ferramentas e que terão por objetivo proporcionar elementos
para que se possa conhecer; nesse sentido, as ferramentas teóricas não
têm, necessariamente, de ser anarquistas, ainda que se deva ter em conta
a relação entre ideologia e teoria, ferramentas que devem proporcionar
elementos para uma compreensão adequada do sistema, das formações
sociais, da conjuntura. Nesse sentido, a teoria busca conhecer e a
ideologia transformar.
Capitalismo como sistema de dominação
O capitalismo é um sistema. Sistema é um conceito para discernir o
“núcleo duro”, a configuração dos elementos constitutivos que fundam e
dão sentido a uma totalidade social. O capitalismo constitui um sistema
de dominação que tem por constituição fundamental alguns elementos:
Propriedade privada; exploração; disciplinamento dos corpos; a
modalidade de representação, administração e justiça; um sistema
coercitivo e repressivo; a existência de classes sociais; exclusão
social. Esse sistema de dominação está formado por uma estrutura global
formada por distintas esferas, entre elas: estrutura econômica;
estrutura política-jurídica-militar; estrutura ideológica-cultural
(idéias, representações, comportamentos, modo de informação, tecnologias
de poder a ela unidas). Estrutura é o conjunto de elementos de uma
organização social e suas relações, presentes no sistema de dominação. O
capitalismo, concebido globalmente como sistema de dominação, possui
agentes que impulsionam essa dominação em todas as esferas. Por exemplo:
Política: organizações internacionais (FMI, Banco Mundial, OMC, União
Européia, OTAN, etc); Economia: empresas transnacionais, bancos;
Ideológico: conglomerados de mídia.
Interdependência das esferas
O método apresentado na formação baseia-se na interdependência das
esferas e, portanto, entende o sistema como um todo no qual uma esfera
influencia, sustenta e torna as outras dependentes. O sistema de
dominação (capitalismo) é constituído por uma estrutura global formada
por distintas esferas, estrutura esta que não têm determinação outra a
não ser a interdependência. As distintas esferas da estrutura tem
autonomia relativa, com elementos específicos que constituem no seu
interior outras esferas menores. A dominância de uma estrutura sobre a
outra não se estabelece a priori, é produto das análises respectivas. O
sistema de dominação é dinâmico e atravessa várias etapas históricas
mantendo elementos estruturais que o reproduzem de distintas maneiras.
Poder, dominação, resistência e as distintas esferas da sociedade
A estruturação da sociedade está baseada em última análise nas relações
de poder e dominação, relações fundamentais que atravessam todas as
esferas e configuram modos de articulação da estrutura global com seu
característico núcleo duro. O poder circula por todo o corpo social,
pelas diferentes esferas estruturadas. Vale dizer por todas as relações
sociais. O poder está nas relações sociais, nos diferentes campos das
relações sociais e o aparelho de Estado estaria contendo com toda sua
dimensão, circulando pelo seu interior,certa síntese de poder dominante.
Sendo assim, o poder não reside nas estruturas nem nas instituições,
mas no campo das relações sociais. E não somente no político, mas também
no econômico, ideológico, jurídico e todas as instituições do sistema.
Teríamos assim poder no econômico, jurídico-político-militar,
ideológico-cultural. Nesse sentido, há resistências nas distintas
esferas que podem ser maiores ou menores, mais ou menos ameaçadoras ao
sistema de dominação.
Poder e Estado
As instituições, os aparelhos, as estruturas não são amorfas, estão
sempre penetradas pelo poder. Articulada a estrutura de produção, por
exemplo, está o poder, as classes e as lutas. O aparelho de Estado
contém certa síntese de poder dominante que circula no seu interior. Não
se pode definir o Estado como o conjunto da sociedade e nem equiparar
Estado e poder. O Estado é o lugar de “condensação” de diversos poderes,
um lugar específico que tem sua própria “autonomia relativa” e que é
capaz de manter e reproduzir privilégios de diferentes ordens. Sua
dinâmica é centralizadora, apta só para dominação, sua função é
repressora e controladora. Os conceitos básicos para o Estado o definem
como monopólio da força repressiva organizada, da “justiça”, estrutura
de privilégios, centralizadora, anuladora do que não controla.
Formações sociais e conjuntura
As formações sociais concretas são o campo da análise descritiva de
sociedades históricas onde o sistema de dominação tem determinação em
estado prático. O grupo de acontecimentos que marcam um momento
específico das formações sociais e suas estruturas fundamentais formam a
conjuntura.
Ideologia e sujeito
Determinados momentos históricos produzem com peso um conjunto
articulado de idéias, representações, noções no interior do imaginário
dos distintos sujeitos sociais. Um conjunto articulado de caráter
imaginário, que toma a forma de “certezas” defendidas pelos mesmos
sujeitos sociais. Isto é o que pode transformar estes sujeitos em
protagonistas de sua própria história ou em sujeitos passivos e/ou
disciplinados pelas forças dominantes. Isto é o que chamamos de
ideologia (não confundir a ideologia da sociedade que se fala aqui com a
ideologia anarquista, tratada anteriormente). Ideologia não é falsa
consciência. O sujeito real não está representado na figura do “eu”, na
consciência, mas é constituído na estrutura do inconsciente, isto é, nas
formações ideológicas em que ele se reconhece. O que o sujeito vive e
como vive cotidianamente, historicamente, no marco de determinados
dispositivos, seria o elemento principal de mudança de sua consciência. É
construindo força social e tomando ativa participação nela que se podem
formar embriões da nova civilização ou do “homem novo”, de outro
sujeito. Digamos que este é o tema de como se transforma a consciência,
para usar a linguagem clássica. Pelo que tem se visto a economia por si
não transforma a consciência. O que o sujeito vive e como vive
cotidianamente, historicamente, no marco de determinados dispositivos,
seria o elemento principal de mudança de sua consciência. O que está no
centro da história não é o homem, mas as lutas de poder e economia. Os
fazedores de história seriam especialmente classes (grandes coletivos)
operando como forças sociais.